quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Fundo do poço

  Não vou dizer que o meu trabalho me atormenta, não vou dizer que o colégio, o curso, os bares e o shopping também. Seria covardia colocar a culpa em fatores rotineiros, dos quais, não há como escapar. Ou sobrevive ou se mata. Ou respira fundo ou sai bufando para nada solucionar. Não estou dizendo para ficar sentado no sofá com os pés para cima esperando cair do céu a solução, mas sim ao invés de reclamar colocar o cérebro para pensar, afinal, ele foi feito para isso, certo?
 O difícil é conseguir passar do lado deles sem nada notar, com aquela sábia indiferença, sabe? Você deve saber, sabe sim, vai... Aquelas pessoas que estão a menos de cinco passos de você, trabalhando todos os dias com você e mal sabendo e querendo saber quem é você. Elas estão naquele grupinho dos quais você se mantém longe para evitar conflitos, já que tais são tão ranzinzos que a única coisa que aguenta-os é o trabalho. São bem aqueles que trabalham para não poder pagar nem um feriado numa praia com os amigos e se tiverem amigos, já que a falta de humor possa ter tirado deles essa dádiva. Eles encontram-se atordoados, perdidos, sem nenhum amor, sem nenhum tustão, sem nenhum tesão. Ah, mas seria cruel não dizer que a casa deles não tem nada fora do lugar, é organizada, com um belo design, com farturas em suas geladeiras, com uma vista privilegiada, com uma empregada, com tudo limpo, tudo exato, tudo. Seria cruel dizer que eles não pagam as contas porque fizeram um financiamento de 28 anos que lhe dão o direito de ter um apartamento em um prédio estilo resort, no qual eles nem descem para aproveitar. Dentre outras coisas típicas... Afinal, por que ficar falando tanto em plural se tais devem dormir sozinhos? Acordar sozinho, assistir sozinho, comer sozinho...
  As coisas que eles possuem parecem sim de boa aparência, mas eles lembram-me olhos cansados, cheios de olheiras e não de uma noite não dormida por ter festejado à noite inteira, mas por deitar no travesseiro e não conseguir dormir. Eles sabem que está faltando algo e vão procurar em lugares errados, seja numa carreirinha, numa graninha ou em qualquer lugar que não sejam em si mesmos. 
  Ando querendo saber o que anda faltando aqui além de dinheiro para pagar o meu aluguel e o meu cigarro. Só sei que mais ninguém pode arrumar isso daqui além de mim. Venho tentando balancear as coisas, mas com os preços elevados e aquele salário miserável no final do mês... Já não tenho nada de valor, ando vivendo das minhas tripas. E o amor? Ah, o amor... Ele nunca aparece, até aparenta que está brincando de pique esconde comigo. E deve estar, só pode.

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